Pensando Outra Inovação: Estudos Críticos

A Revista Eletrônica PesquisABC possui o seguinte registro ISSN: 2675-1461
Tiago Brandão (UFABC | PPGTE) *
a Professor Visitante estrangeiro do Bacharelado em Políticas Públicas da Universidade Federal do ABC – UFABC
b Professor Credenciado da Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (PPGTE/UTFPR)
c Pesquisador da Universidade NOVA de Lisboa (NOVA FCSH), Grupo 'História, Territórios e Comunidades’ (HTC), Portugal.
Resumo: O discurso dominante sobre inovação encontra-se em crise, revelando contradições sociais, políticas e epistemológicas. Aqui se deixa uma análise crítica das narrativas correntes, destacando três posições: a tecnocrata, a ingênua e a contra-hegemônica. Argumenta-se que a inovação se tornou a ideologia central de nossos tempos, mascarando impactos negativos e capturando inclusive iniciativas sociais em benefício de interesses corporativos. Propõe-se assim deslocar o foco da inovação enquanto fim em si mesmo para uma abordagem mais crítica e contextualizada, baseada na análise histórica, na economia política e no fortalecimento de perspectivas locais e do Sul Global. Defende-se a adoção de novas «frameworks» para a política de inovação, que estejam atentas aos limites planetários e às necessidades sociais reais, superando a visão voluntarista que enxerga a inovação como panaceia. A proposta aqui presente convida a repensar a inovação como instrumento de transformação emancipatória, e não como simples vetor de mudança. A crítica à «mudança pela mudança» aponta para a necessidade de frear a obsessão voluntarista por soluções tecnológicas, resgatando lições históricas e reconstruindo modelos de desenvolvimento mais justos e sustentáveis.
Palavras-chave: Inovação crítica; Retórica da inovação; Economia política da inovação; Desenvolvimento e justiça social; Apropriação social da tecnologia.
Abstract: The dominant discourse on innovation is in crisis, revealing social, political and epistemological contradictions. A critical analysis of current narratives is proposed, highlighting three positions: the technocratic, the naive and the counter-hegemonic. It argues that innovation has become the central ideology of our times, masking negative impacts and even capturing social initiatives in favour of corporate interests. It proposes shifting the focus from innovation as an end in itself to a more critical and contextualised approach, based on historical analysis, political economy and the strengthening of local and Global South perspectives. It advocates for the adoption of new innovation policy frameworks, attentive to planetary limits and real social needs, and overcoming the voluntarist vision that sees innovation as a panacea. This proposal invites us to rethink innovation as an instrument of emancipatory transformation, and not simply as a vector for change. The critique of «change for change's sake» points to the need to curb the voluntarist obsession for technological solutions, rescuing historical lessons and rebuilding fairer and more sustainable development models.
Keywords: Critical innovation; Rhetoric of innovation; Political economy of innovation; Development and social justice; Social appropriation of technology.
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https://orcid.org/0000-0002-7733-1735
Introdução
Em um auditório lotado, um executivo sobe ao palco confiante. Atrás dele, a projeção exibe palavras cintilantes: inovação, futuro, disrupção. O público — formado por gestores, estudantes, autoridades — aplaude a promessa de um mundo transformado pela tecnologia. Fala-se em cidades inteligentes, carros autônomos, inteligência artificial, agricultura de precisão. Tudo parece possível. Mas, do lado de fora, motoristas de aplicativo enfrentam jornadas extenuantes, agricultores veem suas práticas tradicionais substituídas por algoritmos, e comunidades inteiras são deixadas à margem da tão celebrada transformação digital. Hoje, este cenário e as suas contradições estão presentes em qualquer parte do mundo, independentemente das diferenças reais entre o Norte e o Sul Global.
A inovação tornou-se o mito fundacional da nossa era, um mantra para a solução de todo e qualquer problema. Em discursos políticos, empresariais e acadêmicos, aparece invariavelmente como promessa universal de solução para a crise ambiental, a estagnação econômica e a desigualdade social. Instalou-se como ideologia transversal, naturalizando a crença de que o novo é, em si, desejável. (Filgueiras, 2021) Inovar virou mandamento e imperativo moral.
Mas uma pergunta incômoda precisa ser feita: inovar para quê? Para quem? A que custo?
Este ensaio, e a pesquisa em curso aqui descrita, nasce de uma desconfiança — e também de uma urgência. A desconfiança de que a inovação, tal como a celebramos hoje, é menos uma prática libertadora e mais um grande projeto ideológico. Um projeto que mascara a captura da ciência, da própria tecnologia e certamente da imaginação coletiva pelos interesses do mercado e do poder. A urgência de recuperar um sentido mais justo, crítico e emancipador para o fazer tecnológico.
Pensar outra inovação é desafiar esse encantamento. É recuperar a ideia de que a inovação sempre esteve situada em conflitos sociais, escolhas políticas e disputas em torno do nosso futuro. O que nos move não é «como inovar mais», mas como resgatar a inovação como prática comprometida com justiça social e com os limites do planeta.
A investigação desenvolvida, e parcialmente ainda em curso enquanto agenda de pesquisa, adota uma abordagem teórico-crítica, baseada na revisão de literatura especializada, na análise de discursos e conceitos sobre inovação, e na seleção de exemplos históricos e empíricos que evidenciam suas contradições internas. Partimos de uma perspectiva histórica e política dos estudos de ciência, tecnologia e inovação (CTI), atentos às trajetórias de captura da inovação pelos interesses econômicos e às tentativas hoje de resistência emergentes em diferentes contextos.
O ensaio organiza-se em duas partes: na primeira lembramos as raízes históricas, sociais, políticas e epistemológicas do atual mal-estar em torno da inovação para, em seguida, identificarmos as três principais posições diante da inovação — tecnocrata, ingênua e crítica; na seção seguinte explicitamos o programa de pesquisa em curso, quais os caminhos e os resultados preliminares. Por fim, propomos a construção de uma inovação emancipada, ancorada em justiça social, numa perspectiva que considere a economia política e a escuta das experiências periféricas. Este ensaio busca oferecer não apenas uma crítica das narrativas dominantes, dando conta de uma agenda de pesquisa em curso, mas também colocar a urgência de buscar alternativas e práticas concretas que nos ajudem a pensar e praticar outra inovação.
1. Diagnóstico do Problema
A história da tecnociência oferece pistas claras: a associação entre ciência, tecnologia e poder econômico não é uma novidade. Durante a Segunda Revolução Industrial, a simbiose entre técnica e capital transformou o trabalho e a vida em mercadorias. No século XX, a tecnociência, alimentada pelo complexo militar-industrial, consolidou a subordinação da pesquisa científica a imperativos de Estado e mercado. O paradigma da Big Science no pós-Segunda Guerra Mundial — marcada por grandes orçamentos, laboratórios militarizados e contratos corporativos — reforçou ainda mais a associação da inovação com interesses estratégicos e econômicos. A integração da ciência e tecnologia ao complexo militar-industrial exemplifica como a autonomia do conhecimento foi progressivamente subordinada a agendas políticas e comerciais.
Esses movimentos históricos mostram que a inovação nunca foi neutra: sempre refletiu estruturas de poder. Desde a instrumentalização da ciência química no colonialismo (como no caso das pesquisas sobre borracha sintética para reduzir dependências coloniais), até a atual crise ecológica, em que não faltam exemplos de «greenwashing» e certificação verde dos mais diversos interesses econômicos. As promessas tecnológicas coexistem com dinâmicas de desigualdade, dominação e exclusão. Cada «grande inovação» carrega seu reverso: a síntese da borracha nasceu da necessidade de romper dependências coloniais; o transistor, marco da miniaturização eletrônica, foi fruto da militarização da informática; o plástico, símbolo do consumo no século XX, hoje inunda oceanos e contamina cadeias alimentares. Até mesmo tecnologias «verdes», como o carro elétricos e suas baterias de lítio, reproduzem dinâmicas de extração predatória e exploração neocolonial no Sul Global.
Diversos destes exemplos refletem como a inovação não está isenta nos efeitos negativos que afetam a harmonia e justiça social de nossas sociedades. Não faltam exemplos de mal-entendidos ou até mesmo de «captura» (Pel, 2015) de «iniciativas bem-intencionadas» pelo poder corporativo e pelos discursos comerciais do «business as usual». As práticas de «greenwashing» estão por toda parte. Exemplos abundam: desde os veículos elétricos e as baterias de lítio; a chamada «agricultura de precisão» tem suas implicações e um conjunto de efeitos alegadamente não antecipados, associados inclusive à «dataficação»; até mesmo as bicicletas foram transformadas em um sério problema de resíduos, em que o crescimento de cemitérios de descarte tornou-se um problema público – há registros desses lugares na China ou na Índia, por exemplo, e um pouco por todo lado, muito por conta da explosão do seu aluguel por meio de aplicativos digitais em massa nas novas «cidades inteligentes».
O problema contemporâneo é que essas tensões foram invisibilizadas pela retórica triunfalista da inovação. Mesmo movimentos sociais bem-intencionados, como os da inovação social, muitas vezes reproduzem, de forma inconsciente, os mesmos pressupostos do paradigma dominante. A inovação deixou de ser um meio para tornar-se um fim em si mesma.
Nada disso é acidental. O culto à inovação, ao contrário do que apregoa, muitas vezes legitima novos modos de exploração: precariza o trabalho, degrada o ambiente, reforça assimetrias globais. Vende como «futuro» aquilo que, historicamente, já foi — e ainda é — instrumento de dominação. O culto contemporâneo da inovação — essa obsessão pelo «novo» a qualquer preço — é, em si, uma construção histórica: uma resposta performativa, política e econômica, aos limites e contradições do capitalismo avançado. Como mostram as críticas emergentes dos estudos de inovação, a retórica da mudança esconde mais do que revela: obscurece os impactos negativos, captura a resistência, transforma a técnica em fetiche e silencia futuros alternativos.
Não deve pois estranhar que, apesar da ubiquidade do discurso sobre inovação, cresça hoje uma sensação difusa de desilusão e desconforto. A inovação, outrora associada a projetos de emancipação social e desenvolvimento humano, parece hoje ter se tornado um fim em si mesma: um ritual vazio, repleto de promessas grandiosas, mas desvinculado das necessidades reais da maioria. Este mal-estar não é fortuito: reflete contradições profundas nas formas como a inovação tem sido promovida, apropriada e instrumentalizada na sociedade contemporânea. Reflete, inclusivamente, a associação com o próprio projeto do neoliberalismo, fato que não tem passado despercebido a colegas da academia no Brasil. (Oliveira, 2011, 2013)
1.1. A crise da inovação: um mal-estar latente
Quais as razões de fundo desse mal-estar latente em torno da retórica da inovação? Essas razões são de duas ordens: i) Sociais e políticas; e ii) de ordem epistemológica
Na primeira ordem de razões observamos o predomínio de empreendimentos e inovações desvinculadas de um projeto emancipador, com escassa capacidade de transformação. A inovação (e o seu discurso) tornou-se um fim em si mesmo, beirando a irresponsabilidade pública em muitos casos. Vivemos um cotidiano das «grandes promessas»: os empreendimentos e projetos de inovação têm entregado pouco e os resultados visíveis não são inequívocos (startups, indicadores como patentes, parques tecnológicos, etc., uma miríade de investimentos que, lamentavelmente, não resiste ao exame avaliativo (dados da PINTEC, i.e., a Pesquisa de Inovação no Brasil, notas técnicas do IPEA, etc.) – inclusive internacionalmente, Wisnioski e Vinsel (2019) nos deixam uma alarmante denuncia dos campi de inovação nos Estados Unidos; ou regionalmente, conforme Nolasco (2024), que, em sua dissertação realizada na UFABC, nos deixou fracas evidências sobre o impacto do Parque Tecnológico de Santo André. Ao mesmo tempo, está patente um déficit de escrutínio dos figurinos (e instrumentos) recorrentes das políticas oficiais de inovação, que no ponto em que chegámos nos suscitam reservas quanto à sua própria racionalidade económica.
A inovação foi capturada por interesses corporativos, financeiros e estatais, abandonando sua potencialidade transformadora em favor da manutenção da ordem econômica vigente. Na prática, os empreendimentos inovadores muitas vezes reforçam desigualdades sociais, precarizam o trabalho e ampliam a exclusão — como demonstram os estudos sobre plataformas digitais e o empreendedorismo de necessidade. (ex. Antunes, 2018; Hiessl et al., 2024) Ilustrado em exemplos históricos também, como a transformação da Big Science em instrumento do complexo militar-industrial, demonstram como a inovação pode ser mobilizada para fins estratégicos que ignoram ou mesmo contrariam o bem-estar coletivo.
Além das dinâmicas sociais e políticas, há também um problema de ordem epistemológica: i.e., o domínio quase exclusivo da economia da inovação nos estudos sobre o tema reduziu a complexidade do fenômeno. A diversidade de abordagens — históricas, sociológicas, filosóficas — foi em grande medida marginalizada em favor de narrativas heroicas e simplificadas, que celebram a figura do empreendedor e obscurecem os conflitos sociais subjacentes. A canonização de um modelo schumpeteriano simplificado, amplificado pelos manuais de gestão e pelas escolas de negócios, consolidou uma visão tecnocrata e despolitizada da inovação. Por exemplo, as áreas e práticas da gestão de negócios obliteraram a história rica da sucessão de teorias e modelos em torno da inovação (cf. Godin, 2015a, 2015b, 2017), reduzindo-a quando muito às ideias de Schumpeter e ao que os manuais de gestão entenderam canonizar.
Ao longo da história recente, muitas inovações aclamadas acabaram revelando efeitos sociais e ambientais perversos, frequentemente invisibilizados na narrativa pública. As externalidades negativas, os impactos sobre o trabalho, o ambiente e as culturas locais são tratados como «efeitos colaterais», raramente integrados às avaliações de sucesso.
Além dos exemplos históricos temos também os contemporâneos, tais como:
- A expansão dos veículos elétricos associada à exploração intensiva do lítio e à devastação socioambiental no chamado «triângulo do lítio» (Chile, Bolívia e Argentina);
- A proliferação de bicicletas compartilhadas nas «smart cities», que gerou cemitérios de bicicletas abandonadas, expondo a lógica de obsolescência programada até em iniciativas supostamente sustentáveis;
- A agricultura de precisão, que, ao «datificar» práticas agrícolas tradicionais, reforça a dependência dos agricultores em relação a grandes corporações de tecnologia.
Mesmo as propostas de inovação «alternativa» — como tecnologias sociais, inovações dos comuns ou ciência cidadã — frequentemente correm o risco de serem capturadas pelo mainstream. Ao serem traduzidas para as linguagens da eficiência, da escalabilidade e do empreendedorismo social, perdem sua força de contestação e se tornam peças do mesmo jogo que pretendiam transformar.
1.2. Três posições diante da retórica da inovação
A centralidade da inovação no imaginário contemporâneo não eliminou divergências; ao contrário, o discurso inovador é atravessado por tensões internas, diferentes formas de adesão, resistência ou captura. Distinguem-se três grandes posições, baseadas em análise conceitual e exemplos socio-históricos.
A primeira é a dos pragmáticos tecnocratas, ligados a uma ortodoxia neoschumpeteriana. Para essa visão, a inovação é inevitavelmente ambígua, trazendo benefícios e custos, ambos considerados «paradoxos naturais» (i.e., a «destruição criativa» de Schumpeter). A solução? Continuar inovando. Essa postura gerencialista busca otimizar a inovação como recurso econômico, justificando estratégias nacionais de inovação e a legitimação histórica da Big Science. Um exemplo é a defesa mainstream de uma economia circular high-tech, apesar da implementação problemática da bioeconomia circular (Urmetzer et al., 2021).
A segunda posição é a do senso comum otimista, que vê a inovação como força mágica de transformação social, ignorando mediações históricas e complexidades locais. Confunde mudança com progresso, atribuindo valor automático a qualquer novidade. Um exemplo é o entusiasmo irrefletido pelas «cidades inteligentes», implantadas muitas vezes sem participação popular e reforçando desigualdades.
A terceira posição, adotada neste artigo, é a crítica contra-hegemônica, que vê a inovação como terreno de conflito, não como processo neutro. Questiona o fetiche da novidade e expõe as relações de poder invisibilizadas nas tecnologias, defendendo a apropriação social da ciência e da técnica. Exemplos incluem práticas de agricultura agroecológica comunitária, que resistem à lógica da agricultura de precisão e afirmam outras formas de saber.
Essas três posições podem ser resumidas:
- Neoschumpeteriana e gerencialista (tecnocrata): aceita os paradoxos da inovação como inevitáveis, buscando gerenciar riscos e maximizar ganhos.
- Senso comum (ingênua): defende a mudança como bem intrínseco, associando qualquer inovação ao progresso civilizatório, sem crítica às mediações históricas.
- Contra-hegemônica (crítica): alerta que a maioria das pessoas precisa mais de garantias básicas do que de novas inovações, e que as transformações devem ser pensadas a partir das necessidades sociais, não dos interesses de mercado.
Esta sistematização evidencia que repensar a inovação exige recuperar sua historicidade, desvelar suas capturas e reimaginar projetos sociais enraizados na justiça e na emancipação coletiva.
Quadro 1: Resumo das Três Posições diante da Retórica da Inovação
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Posição |
Caracterização Principal |
Exemplos |
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Tecnocrata (Neoschumpeteriana) |
Aceita os paradoxos da inovação como naturais; gestão racional de riscos; fortalecimento de estratégias de competitividade. |
Big Science, estratégias nacionais de inovação, diversas políticas de apropriação econômica de agendas antissistêmicas (do Green Deal à bioeconomia circular). |
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Ingênua (Senso Comum Otimista) |
Crê que toda inovação é boa; associa mudança a progresso automático; automático; ignora mediações sociais e políticas. |
Cidades inteligentes implantadas sem participação cidadã efetiva. |
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Contra-hegemônica (Crítica) |
Questiona o fetiche da novidade; expõe relações de poder; propõe inovação orientada pela justiça social e emancipação. |
Agroecologia comunitária, tecnologias sociais, inovação dos comuns. |
Fonte: elaborado pelo autor.
Em suma, as três posições não coexistem pacificamente. Pelo contrário, há disputas permanentes — nos campos da política pública, da pesquisa acadêmica, da sociedade civil — sobre qual inovação desejamos, para quem e a serviço de quê. Enquanto as posições tecnocratas e ingênuas tendem a reforçar a perpetuação da ordem dominante, a posição crítica propõe reabrir o debate político sobre o desenvolvimento, a justiça social e o papel emancipador da ciência e da tecnologia.
2. Pesquisas em curso – para um estudo crítico do fenômeno da inovação
Ainda estamos captando a superfície da inovação como um fenômeno político do nosso tempo. Da direita à esquerda, o apelo da inovação é muito parecido: em uma abordagem «tecno-solucionista», a inovação é uma panaceia; a inovação é sempre boa, e o «viés pró-inovação» está presente em todas as abordagens correntes. E não apenas nas visões dominantes e hegemônicas. Mesmo as que se declaram contra-hegemônicas (ex., inovação social e inclusiva, inovação convivial, inovação «dos comuns», tecnologia mundana, tecnologia social, dentre outras). Qualquer destas noções cerca o conceito e as possibilidades da inovação, mas não nos esclarece sobre o fenômeno político de nosso tempo.
Quadro 2. Levantamento das atuais «policy-frameworks» contra-hegemônicas

Fonte: elaborado pelo próprio autor.
Há uma «inovação-real» (ou seja, inovações materiais que podem aliviar nossos fardos diários); mas, na atualidade, há também uma «retórica de inovação», cheia de promessas, envoltas por interesses políticos muito diferentes. O «discurso da inovação» (cf. Vinsel & Russel, 2020) é a ideologia das escolas de administração em todo o mundo. É um discurso que perpassa um combate cultural em torno de diferentes visões de mundo e se repercute no atual modelo dominante de desenvolvimento, de depredação econômica e exploração social: apesar de suposta neutralidade, há hoje uma luta ideológica por trás das narrativas que usam do apelo à inovação.
2.1. Qual o principal achado da pesquisa?
Esta pesquisa trata da crítica aos discursos e práticas contemporâneas sobre inovação. Seu objeto principal é a análise crítica da inovação como ideologia dominante na sociedade atual, não apenas como prática técnica ou econômica. O estudo mostra que a inovação, muitas vezes celebrada como solução para todos os problemas (i.e., panaceia), tornou-se um discurso hegemônico e acrítico, desvinculado de transformações sociais emancipadoras. O principal achado é que há uma captura da inovação por interesses corporativos e políticos, que obscurece seus efeitos negativos e silencia alternativas mais justas e sustentáveis.
Objetivo explícito: desconstruir os discursos dominantes sobre inovação e propor caminhos alternativos baseados na justiça social e no respeito aos limites planetários.
2.2. Como a pesquisa foi feita?
O estudo é baseado em uma pesquisa de caráter teórico-crítico, que combinou:
- Revisão crítica da literatura em estudos de inovação, sociologia, economia política e políticas públicas;
- Análise conceitual de diferentes narrativas sobre inovação, destacando tensões, limites e silenciamentos;
- Exemplificação empírica com casos emblemáticos de «dark-side innovation» (ex.: «greenwashing», problemas ambientais em velhas e novas tecnologias).
Trata-se de um trabalho de análise documental, histórico-conceitual e crítica de discursos, embasado em referências teóricas sólidas (Godin, Vinsel, Pel, entre outros).
2.3. Como os resultados interferem na vida das pessoas?
Este estudo é relevante porque desmascara as ilusões associadas à inovação enquanto promessa automática de progresso. Ao alertar para os impactos negativos de inovações mal avaliadas (como precarização do trabalho, danos ambientais ocultos ou captura de bens comuns), é uma agenda de pesquisa que oferece às pessoas e aos formuladores de políticas argumentos para uma escolha mais consciente e crítica sobre que tipo de inovação apoiar.
Exemplos práticos:
- Alertar comunidades para os efeitos ocultos de projetos de «cidades inteligentes» ou de «agricultura de precisão»;
- Fortalecer movimentos sociais que buscam apropriação social da ciência e tecnologia;
- Influenciar gestores públicos a adotar políticas de inovação que priorizem o bem-estar coletivo, e não apenas o crescimento econômico.
2.4. Como os resultados mudam o que já se sabia na área do conhecimento?
A pesquisa amplia os estudos de inovação ao romper com a narrativa de que toda inovação é intrinsecamente positiva. Enquanto grande parte da literatura clássica foca nas dimensões econômicas e tecnológicas da inovação (e.g., Schumpeter), este ensaio (e o programa de pesquisa em curso):
- Denuncia a captura ideológica do discurso da inovação;
- Reivindica a importância da economia política, das trajetórias históricas e das vozes do Sul Global;
- Mostra que a inovação precisa ser situada politicamente, e não tratada como algo neutro ou universalmente benéfico.
Assim, este tipo de pesquisa contribui para consolidar um novo campo crítico, assente no escrutínio dos estudos e políticas de inovação, tornando-nos mais atentos às dimensões sociais e ambientais do empreendimento inovador.
2.5. Quais os próximos passos diante dos resultados/conclusões?
Com base nas conclusões preliminares obtidas, recomendamos:
- Aprofundar a leitura e análise comparativa de diferentes «frameworks» (cf. Godin, 2009) de políticas científicas e de inovação, identificando alternativas concretas contra-hegemônicas;
- Mapear práticas e experiências de inovação emancipadora, especialmente em comunidades locais, indígenas e periféricas;
- Propor instrumentos e políticas públicas que privilegiem inovação para o bem público, respeitando limites planetários;
- Fortalecer redes internacionais de pesquisa crítica sobre inovação, promovendo intercâmbio entre Sul Global e Norte Global crítico.
Quadro 3. Comparativo de Marcos Alternativos de Inovação
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Conceito |
Definição |
Objetivos |
Suposições Centrais |
Tipo de Inovação |
Textos Seminais |
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Inovação Social |
Práticas que atendem a necessidades sociais por meio de novas relações sociais. |
Inclusão, empoderamento, mudança institucional. |
A inovação pode resolver problemas sociais de forma inclusiva. |
Processual, institucional, relacional. |
Moulaert et al. (2013); Mulgan et al. (2007); Murray et al. (2010); Howaldt et al. (2014, 2019); Howaldt & Kaletka (2023) |
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Tecnologia Social |
Tecnologias co-produzidas para transformação social e solidariedade. |
Apoiar a economia solidária; democratizar a tecnologia. |
Os sistemas de C&T servem a interesses de elites; alternativas são necessárias. |
Tecnologia apropriada, inovação de processo. |
Dagnino (1977, 2004, 2011, 2019, 2020); Schumacher (1973) |
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Inovação ‘grassroots’ |
Inovação de baixo para cima com base em conhecimento local e recursos limitados. |
Empoderamento, sustentabilidade, autonomia. |
Comunidades podem inovar por conta própria. |
Ambiental, social, tecnológica. |
Smith et al. (2012); Smith, Fressoli e Thomas (2014) |
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Inovação Inclusiva |
Inovação que inclui grupos marginalizados como usuários ou produtores. |
Ampliar o acesso ao desenvolvimento e à tecnologia. |
Os sistemas de inovação são estruturalmente excludentes. |
Produtos e serviços inclusivos. |
Cozzens & Sutz (2012); Foster & Heeks (2013) |
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Inovação Frugal & Jugaad |
Soluções de baixo custo e eficientes desenvolvidas sob restrições de recursos. |
Acessibilidade, funcionalidade, acesso. |
A escassez estimula a criatividade e a adaptação. |
Produtos de baixo custo, inovação reversa. |
Radjou et al. (2012a, 2012b); Bhatti et al. (2018) |
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Tecnologia Mundana |
Reapropriação criativa de tecnologias cotidianas por grupos marginalizados. |
Autonomia, reparo, acesso, resistência. |
A tecnologia reflete/reproduz poder e desigualdade. |
Informal, reapropriada, ferramentas DIY (‘faça você mesmo’ | Do-It-Yourself). |
Nemer (2021) |
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Inovação Comum |
Inovação baseada em bens comuns, com governança coletiva. |
Democratizar a inovação, empoderar coletivos. |
A inovação é política e pode ser comum. |
Produção entre pares, sistemas open-source. |
Swann (2014) |
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Inovação Convivial |
Inovação que promove autonomia, cuidado e equilíbrio ecológico. |
Suficiência, sustentabilidade, bem-estar relacional. |
A inovação deve respeitar limites sociais e ecológicos. |
Baixa tecnologia, baseada em cuidado, pós-crescimento. |
Robra et al. (2023); Pansera (2023); Pansera & Fressoli (2021); Parrique (2019); Illich (1973) |
Fonte: elaborado pelo autor.
Considerações finais e recomendações
Face ao apelo e às contradições da inovação, surgem múltiplas respostas na literatura e em políticas experimentais. Há várias «estruturas conceituais» de CTI que apelam à apropriação social dos frutos da inovação. Algumas defendem o fortalecimento da «responsabilidade social corporativa» (Porter & Kramer, 2006); outras propõem «fazer mais com menos» (Goulet & Vinck, 2022, 2023); movimentos sociais apostam em usos alternativos das tecnologias (Nemer, 2021); e novas abordagens como a inovação convivial (Robra et al., 2023) buscam conciliar crítica e fé tecnológica.
Apesar da diversidade, persiste o enredamento num voluntarismo: mesmo alternativas críticas frequentemente compartilham a crença na inovação como vetor inevitável de mudança social. A inovação é parte de um dispositivo simbólico que mobiliza esperanças e naturaliza desigualdades.
O apelo ambíguo da inovação exige uma nova consciência crítica: recusar a aceitação automática da mudança, reinventar critérios que considerem impactos sociais e ecológicos e recuperar o debate coletivo sobre que inovações queremos. Não se trata de negar a inovação, mas de reapropriá-la como instrumento de projetos emancipatórios e não do espetáculo consumista.
Pensar uma outra inovação é não apenas um exercício teórico — é um convite à ação concreta em nossos territórios, escolas, comunidades e instituições. Ao desmontar o mito da inovação como sinônimo automático de progresso, abrimos espaço para práticas sociais que desafiem a lógica extrativista, hierárquica e tecnocrata do modelo dominante.
Quadro 4. Recomendações práticas para contextos sociais e comunitários
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Eixo de Ação Comunitária |
Recomendações Práticas Inspiradas em uma «Inovação Crítica» |
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1. Diagnóstico participativo de necessidades locais |
Promover rodas de conversa, cartografias sociais e escuta ativa com moradores para identificar demandas reais e saberes locais, superando diagnósticos tecnocráticos e externos. |
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2. Fortalecimento da Economia Solidária local |
Criar redes produtivas com base em cooperativas e associações locais; incentivar compras públicas dessas iniciativas e o apoio técnico à autogestão. |
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3. Formação sociotécnica de agentes comunitários |
Oferecer capacitações em tecnologias apropriadas, direitos digitais, agroecologia, e análise sociotécnica para lideranças locais, educadores populares e jovens. |
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4. Fomento à inovação baseada em saberes tradicionais |
Estimular práticas de inovação cocriada a partir de conhecimentos populares e indígenas, valorizando suas racionalidades próprias e articulando com critérios ético-políticos. |
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5. Criação de marcos e espaços institucionais locais |
Constituir conselhos, comissões ou fóruns comunitários sobre ciência, tecnologia e inovação que dialoguem com universidades e prefeituras para apoiar soluções locais. |
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6. Apropriação crítica de tecnologias digitais |
Desenvolver projetos de inclusão digital crítica, como redes comunitárias, plataformas abertas, laboratórios de mídia e fablabs de baixo custo, com governança comunitária. |
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7. Avaliação pública e ética de projetos tecnológicos |
Aplicar metodologias participativas (ex.: AST, matriz das dimensões de análise de Tecnologia Social, etc.) na avaliação de impactos e adequação de tecnologias nos territórios, garantindo transparência e corresponsabilidade. |
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8. Fomento cruzado entre pesquisa e comunidade |
Apoiar projetos de extensão universitária baseados em demandas sociais; reconhecer lideranças comunitárias como coautoras no processo de conhecimento. |
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9. Visibilização e documentação de boas práticas |
Criar bancos de dados públicos, mapas de iniciativas e sistematizações de experiências bem-sucedidas de inovação local, para troca entre territórios e construção de repertório coletivo. |
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10. Engajamento político e recomposição democrática |
Incentivar a participação cidadã em conselhos e instâncias decisórias locais com base em experiências de inovação comunitária; reforçar vínculos entre inovação e direitos sociais. |
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11. Estratégias para enfrentamento e negociação com atores dominantes |
Estabelecer critérios públicos de transparência e responsabilização em parcerias público-privadas; produzir contra-narrativas com base em mídia comunitária; criar observatórios locais para monitorar impactos e a influência desses atores. |
Fonte: elaborado pelo autor.
Nas comunidades locais, por exemplo, isso significa apoiar iniciativas que partam das necessidades reais dos moradores, não de agendas externas baseadas em “escalabilidade” ou “eficiência”. São exemplos disso as redes de agroecologia, os coletivos de tecnologia livre (ex. tecnologia social, tecnologia mundana, inovação convivial, etc.), os espaços de cultura digital periférica e as práticas educativas populares que articulam saberes técnicos e vivências cotidianas. A inovação nesses casos não se mede por patentes ou capital de risco, mas pela capacidade de fortalecer vínculos sociais, ampliar direitos e valorizar o saber situado.
Já em ambientes institucionais, este estudo convida gestores públicos, educadores e formuladores de políticas a repensarem seus critérios de sucesso. É possível — e urgente — adotar políticas de ciência e tecnologia que priorizem o bem comum, que incorporem mecanismos de escuta e participação cidadã, e que reconheçam os limites ecológicos como norte para a ação inovadora. Em vez de importar modelos genéricos, trata-se de construir soluções enraizadas nos territórios, respeitando os tempos, os conflitos e as culturas locais.
Aponta-se por isso mesmo para a necessidade de ampliar alianças entre academia, movimentos sociais e coletivos de base, numa ecologia de saberes que nos permita reimaginar o futuro com menos fetiches e mais justiça. Uma inovação verdadeiramente transformadora não nasce do centro, mas das bordas. E é aí, nas periferias sociais, territoriais e epistêmicas, que os sinais mais promissores de outro horizonte estão sendo gestados.
Ao mesmo tempo, é fundamental reconhecer que a transformação sociotécnica não ocorre num vácuo. Iniciativas comunitárias e críticas precisam lidar com a presença ativa de atores dominantes — como grandes empresas, partidos políticos hegemônicos, corporações de mídia e agências multilaterais. Em vez de negar sua existência, é necessário desenvolver estratégias de enfrentamento e negociação: isso inclui desde a construção de alianças táticas em torno de pautas comuns (sem capturas), até a produção de narrativas contra-hegemônicas e o fortalecimento de instrumentos de regulação pública e controle social sobre os interesses privados.
Dentro de uma lógica propositiva, são diversas como se vê (Quadro 3) as possibilidades de intervenção transformativa, tanto cotidiana como sistêmicamente; mas são também diversos os caminhos de questionamento (e pesquisa acadêmcia) que podem ser propostos, compreendendo o resgate de posturas mais reflexivas perante o mantra da inovação em nossas sociedades: (1) Resgatar a economia política da inovação, suas trajetórias históricas e as relações de poder subjacentes, integrando aportes dos estudos CTS, história da ciência e tecnologia, teorias da inovação, economia circular, bioeconomia e perspectivas de decrescimento; (2) Lidar criticamente com a proliferação anual de novas «frameworks», reconhecendo a dispersão e superficialidade que marcam o campo dos estudos de inovação na atualidade; (3) Fortalecer as vozes das comunidades locais, regionais e do Sul Global, defendendo governanças «bottom-up» baseadas no compartilhamento de conhecimento e nos limites planetários; (4) Argumentar contra a «mudança pela mudança», reconhecendo que nem toda inovação é benéfica — e que resistir a inovações nocivas não é tecnofobia, mas expressão de legítima defesa social.
Em suma, pensar outra inovação exige interromper a obsessão performativa, fenômeno recorrente no próprio campo de públicas (Faria, 2003), e reconstruir critérios sociais e políticos para a avaliação crítica das transformações tecnológicas, abrindo espaço para práticas alternativas enraizadas no bem-estar coletivo.
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