VII Congresso UFABC coloca em discussão realidade local e regional da Universidade ante desafios e perspectivas do ensino superior público brasileiro
Evento, que durou três dias - entre 23 e 25 de setembro de 2025 - transitou com desenvoltura entre temas internos e externos
O sétimo ano do Congresso UFABC dedicou-se a discutir aspectos regionais e locais sem perder a perspectiva nacional. Durante três dias, membros da comunidade acadêmica e convidados debateram alguns dos principais temas que movimentam a vida universitária brasileira. A UFABC optou por falar de si para tratar da totalidade e quando abordou temas sistêmicos não perdeu o tino das questões internas.
Confira como foi!
“Chegar à sétima edição não é pouca coisa. O formato foi sendo ajustado pouco a pouco”, explicou a vice-reitora Mônica Schröder, antes da mesa virtual “Universidade e autonomia: um laço essencial”, que abriu o evento. , “Almejamos que as pessoas da Universidade se apropriem de fato do congresso, unindo vários eventos acadêmicos na mesma programação”, contou a vice-reitora.
Além de Schröder, a mesa de abertura contou com a reitora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Ana Beatriz de Oliveira, do ex-reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) João Carlos Salles e do reitor da UFABC, Dácio Roberto Matheus.
Salles, durante sua fala, recorreu a uma metáfora para desenvolver sua explanação. “Quem é autônomo? É aquele que tem maturidade suficiente para discernir e tomar posições. A autonomia é então sinal de que o indivíduo tem esclarecimento”, teorizou. “Parece então que estamos fazendo algo estranho atribuindo autonomia não a um indivíduo, mas a uma instituição. Logo, há de se pensar que o próprio princípio faz com que a universidade se obrigue a encontrar meios de reflexão”, afirmou.
“A autonomia assim se associa ao aprofundamento da democracia. Você só tem autonomia se faz as peças da universidade serem chamadas a participar dessa reflexão coletiva”, acrescentou.
Ele se mostrou contrário a colocar a inovação no mesmo patamar do tripé ensino, pesquisa e extensão. Isso seria, segundo ele, confundir resultados com a essência. “A essência da universidade é produzir pesquisa e isso pode gerar inovação. A extensão pode acolher inovação e também se faz ensino utilizando as tecnologias mais atuais”, explicou.
A reitora da UFSCar focou boa parte de sua apresentação no papel e atuação da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). “A associação tem sido um espaço de luta em conjunto com estudantes e técnicos administrativos”, disse.
Ela fez um breve histórico do tema da autonomia das universidades, remontando a 1931, época do Estatuto das Universidades Brasileiras, primeiro marco legal sobre o assunto no país. Outro momento importante ocorreu em 1988. “Foi a primeira vez em que a autonomia universitária passou a figurar como direito constitucional”.
Depois da expansão entre 2003 e 2016 e da subsequente crise, a partir de 2023, houve retomada do assunto como pilar da democracia. Garantia de posse ao reitor ou reitora eleitos e avanços na administração começaram a ser discutidos.
“A Andifes tomou decisão recentemente para que seja repensada a lei orgânica, consolidando juridicamente a autonomia universitária, garantindo financiamento estável e protegendo a democracia interna nas universidades”, afirmou Oliveira.
O reitor Dácio Matheus encerrou as falas fazendo uma breve explanação a respeito do tema da mesa. Para ele, é importante discutir valores irrevogáveis e a autonomia é um deles. “É fácil por conta de questões conjunturais abrir mão de valores”, disse. “Devemos estar vigilantes”, completou.
“Temos duas frentes para superar: a política, avançando na legislação e nas bases legais para garantia da autonomia, mas também progredir na relação das universidades com os órgãos de controle e da administração superior”, afirmou. “Há uma média burocracia abaixo dos ministérios que dá o tom da administração pública, com muitas teses que tentam igualar as universidades a uma repartição pública”, acrescentou.
O segundo dia do evento foi aberto com discussões fundamentais acerca da prática universitária. A mesa de debate “O futuro da pós-graduação brasileira e sua articulação com a graduação e a extensão nas Universidades” apresentou o cenário atual da inter-relação entre esses elementos nas instituições de ensino superior. O pano de fundo da conversa foi a necessidade de formar profissionais mais flexíveis, dinâmicos e que dialoguem com as demandas sociais do mundo contemporâneo. O debate apontou para um modelo no qual as diferentes esferas do conhecimento se complementam para impulsionar a inovação e o impacto social.
A pró-reitora de Graduação da UFABC, Fernanda Cardoso, e os professores Charles Morphy e Edson Pimentel, respectivamente, pró-reitores de Pós-Graduação e Extensão e Cultura, representaram a UFABC no evento.
>Como convidados, estiveram presentes Katiuscia Vargas, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Lana Nascimento, da Universidade Estadual do Ceará (UECE), e Antonio Gomes, da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Para Gomes, que abriu sua fala traçando um histórico da expansão da pós-graduação no País, essa área da educação precisa de uma revolução. Segundo ele, o ingresso tem de ser mais flexível, “contemplando um conjunto de habilidades além do técnico”.
Ainda de acordo com ele, o itinerário da pós deve ser mais dinâmico e diversificado, podendo haver mais pesquisa e menos disciplina. O professor concluiu reivindicando fortalecimento da relação da pós-graduação com setores da sociedade. Ele defendeu mais parcerias com o setor público, que teriam o objetivo de aprimorar políticas públicas. “O governo precisa utilizar o conhecimento que ele gera”, afirmou.
Katiuscia Vargas recorreu às teorias de Edgar Morin para explicitar sua análise. Ela explicou que é importante saber “qual educação nós temos e qual estamos buscando”. A recente democratização do ensino superior brasileiro, segundo Vargas, contrasta com a sua gênese elitista e deixa uma questão: “Faz sentido povoarmos a Universidade com tamanha diversidade e não repensar a educação?”.
Ela propõe a adoção de currículos interdisciplinares e se opõe à compartimentalização dos saberes. “Podemos pensar a graduação e a pós-graduação não como etapas, mas como partes de um mesmo processo formativo”, afirmou.
Lana Nascimento, por sua vez, listou os desafios da extensão na pós-graduação: financiamento, dificuldade de mensuração, editais específicos, integração com demais atividades acadêmicas e regionalização das ações.
A dificuldade de entender o papel da extensão é o maior desafio atualmente, segundo ela. “Ainda se compreende essa área como aplicacionismo”, disse. “Eu sou professor, e não apenas professor pesquisador. Portanto, não se pode dissociar as três vias”, exemplificou.
Ao final das explanações, os debatedores responderam às perguntas da plateia.
A trajetória da política de assistência ao estudante na última década e meia no Brasil foi trazida ao Congresso pela coordenadora geral de relações estudantis na Secretaria de Educação Superior do MEC, Lucia Campos Pellanda. Ela apresentou perspectivas que vão além dos marcos legais, salientando a necessidade de medidas que garantam orçamento adequado, desenvolvimento de estudos sobre o perfil dos estudantes e das diferenças regionais, articulação de politicas públicas e autonomia universitária.
Sandro Augusto Silva Ferreira, coordenador nacional do Fórum Nacional de Pró-reitoras(es) de Assuntos Estudantis (FONAPRACE), explicou como ocorreu a evolução do suporte legal para a criação das políticas de assistência. O coordenador destacou como fato relevante a expansão do objetivo dessas ações do conceito de inclusão para também o de permanência. Ele lembrou que uma das marcas das demandas pela estruturação legal dos programas de assistência é a consolidação dessas iniciativas como políticas permanentes de Estado.
A moderação da mesa foi de Carolina Moutinho Duque de Pinho, pró-reitora de Assuntos Comunitários e Políticas Afirmativas da UFABC.
O início do terceiro e último dia do congresso foi marcado pela discussão acerca dos desafios da governança pública nas universidades, com foco na atuação do controle externo. O debate refletiu o equilíbrio entre autonomia universitária, transparência e responsabilidade na gestão, além de promover o diálogo entre instituições de ensino e órgãos de controle para fortalecer uma governança mais eficiente, ética e colaborativa.
Participaram da mesa “Governança Pública Organizacional: Controle externo e a relação com a Universidade” Bruno Dantas Faria Affonso, auditor federal de finanças e controle da Controladoria-Geral da União (CGU), e Jeferson Alves Dos Santos, chefe da Auditoria Interna da UFABC. A mediação ficou por conta de Vanessa Cervelin Segura, da Pró-reitoria de Administração (Proad) da Universidade.
Ambos convergiram na opinião de que a autonomia universitária não é irrestrita. Santos tratou, entre outros temas, dos pilares da governança nas universidades (Autonomia; Transparência e Prestação de Contas; Responsabilidade na Gestão Pública; e Integração Institucional). “A instituição não pode funcionar como quadradinhos estanques. Essa integração pode ser garantida pelos órgãos de controle”, disse.
De acordo com Affonso, governança é um termo cujo significado está em disputa. “Fiz uma pesquisa e achei 16 núcleos de definição”, afirmou. “Ele está em construção. É diferente de outros que têm seus sentidos delimitados há muitos séculos”, acrescentou.
Ao final do evento, os debatedores também responderam aos questionamentos da plateia. A pró-reitora de Assuntos Comunitários e Políticas Afirmativas (Proap), Carolina Pinho, questionou-os acerca da adoção pelas instituições públicas de ensino superior de ferramentas de gestão da iniciativa privada.
Para Santos, essa “importação” não deveria ser feita “goela abaixo das instituições” sem conhecer as especificidades da universidade. Segundo Affonso, “fazer uma transplantação acrítica sem levar em consideração que, na instituição pública de ensino, a decisão vai ter que ser discutida e passar por instâncias colegiadas é um fator crítico de falha e insucesso”.
Esta mesa abordou ações e avanços ocorridos após a vigência da Lei de Inovação em dezembro de 2004. O diretor técnico do Parque Tecnológico de Santo André, Ricardo Magnani, falou da importância desse arcabouço legal na criação do Parque. Ele apresentou como essa iniciativa representa uma rede institucional que integra os atores que contribuem com o desenvolvimento do ecossistema de inovação regional.
Ana Lúcia Vitale Torkomian, docente da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e diretora da Agência de Inovação da mesma universidade, destacou o papel da Lei da Inovação no surgimento de núcleos de inovação tecnológica nas diversas instituições de ensino do país. Ela citou desafios que incluem a intensificação da cooperação universidade-empresa, capacidade de transferência de conhecimento, adoção de políticas e divulgação dos impactos para a sociedade.
A mediação foi dividida entre Wagner Alves Carvalho, pró-reitor de Pesquisa da UFABC, e Fábio Danilo Ferreira, diretor de Agência de Inovação da UFABC.
A trajetória da expansão dos campi da UFABC foi o tema da apresentação de Lucas Torin, superintendente de obras da universidades, que trouxe um histórico do processo construtivo das instalações prediais e as perspectivas de ampliação nos próximos anos. Ele trouxe detalhes do processo de construção da passarela sobre o Rio Tamanduateí e da remodelação do Campus São Bernardo com a construção da área de convivência, hangar e portaria na Rodovia Anchieta.
Celso Santos Carvalho da Secretaria do Patrimônio da União (SPU) em São Paulo falou do processo de histórico de concessão de terras no Brasil. Ele trouxe informações sobre possibilidades e alternativas para que a UFABC obtenha a posse de áreas locais, atualmente sob responsabilidade patrimonial da União, destacando terrenos adjacentes a linha férrea.
A mesa contou também com a presença do reitor Dácio Matheus, que fez comentários sobre os desafios que a UFABC enfrenta para consolidação e ampliação da infraestrutura da universidade.
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